12.10.22

Infância

                                                                 

A criança que fui

Perdeu-se nas brumas

De um sebastianismo sem retorno.

Queimei meus diários de adolescente

Que não representam mais quem sou.


Desses tempos nebulosos

Guardo a essência que me sustenta:

A verdade do olhar e dos gestos

Que não sabem, nem querem, mentir.


Pelo caminho

Deixei tudo o que não quero mais, como

A falta sinceridade e amor.


Minha criança não suporta os venenos

Da indiferença, do ódio, da amargura, 

Do desafeto e tantos outros,

Que quiseram dar-lhe a beber.

 

Minha criança flutua, descalça,

Entre jardins de margaridas,

Colhe-as, enfeita os cabelos

E tece colares de malmequeres amarelos.


Na orelha direita, prende um hibisco matizado

E corre, feliz, entre cearas de trigo doirado!


                  Celeste Baptista

                            Guarulhos, 12 de outubro de 2022

6.5.22

A Brevidade da Chama

 A vida é tênue como a chama de uma vela que a leve brisa pode apagar!
          Nas últimas três semanas mantive-me afastadas das redes sociais, por motivos de saúde. Atualmente estou bem, após uma recente cirurgia de vesícula, emergencial. A minha Semana Santa (14 a 16 de abril de 2022), foi de dor física até detectar o problema e de alívio ao voltar da cirurgia sem sequelas e sem dor.
        Tudo começou, pelo que julguei ser uma intoxicação alimentar. As dores foram aumentando, a sede imensa, apesar de estar constantemente bebendo, ou, pelo menos, molhando os lábios, até que uma médica amiga, me mandou ir, imediatamente, para o pronto socorro. Obedeci, sem discussão e lá fui eu, acompanhada de uma grande amiga, com vasta experiência de cuidados familiares e hospitalares. Chegamos ao hospital, Carlos Chagas de Guarulhos, onde fui prontamente atendida por uma equipe competente e eficiente, como convém em tais situações.
         Face aos resultados dos exames, constatou-se a necessidade da retirada da vesícula e começaram os procedimentos de encaminhamento à cirurgia. O último exame, foi uma radiografia de pulmão. Avisei que aquela chapa fria nas minhas costas, não traria bons resultados pois tenho uma hipersensibilidade ao frio. E, realmente, o frio foi de tal ordem que entrei em hipotermia, bem no momento de ir para a cirurgia. Foi um susto e surpresa para todo o mundo, pois parecia impossível que uma chapa de radiografia pudesse causar tal efeito. A equipe médica se mobilizou em busca de uma solução e eu, completamente lúcida, repetia que estava com frio, mas nesse momento a voz já não se manifestava exteriormente. Falaram para eu inspirar, tentei, sem conseguir e então tentei soprar, na esperança de que o ar do pulmão fosse renovado. Enquanto isso, eu acompanhava a movimentação de médicos e enfermeiros que tentavam achar uma solução levantando as várias hipóteses do que poderia ter acontecido. Eu, sem a noção de que já tinha 5 cobertores sobre mim, continuava dizendo, sem sucesso, que tinha frio. Finalmente chegou o oxigênio e voltei a respirar normalmente.
       Nova bateria de exames para tentarem entender o que tinha acontecido e se as condições vitais para enfrentar a cirurgia se mantinham. Quando chegaram os resultados dos novos exames, todos Negativos, eu disse: “Não falei que era só frio!?” E lá segui para a cirurgia, uma videolaparoscopia, que durou pouco mais de meia hora e com êxito total.
         A minha gratidão a toda a equipe de plantão que me atendeu com prontidão e eficiência, desde o instante em que entrei no hospital até ao Sábado de Aleluia, em que tive alta. Nesses dias, pude sentir-me forte, temperada, na foice e na enxada com que meus avós lavradores, desbravaram suas terras, pronta a enfrentar o que me restar de vida, sem fazer concessões à mediocridade.
   E aqui estou, três semanas depois, bem recuperada, contando esta história de final feliz, às vésperas do Dia das Mães!
   Guarulhos, 06/05/2022

25.3.22

Menina - Mulher

A linda menina
De doce sorriso,
Tornou-se mulher,
Flor desabrochada
Rosa perfumada,
De meu pequeno jardim.
Que a vida te traga
Uma bela jornada,
Longa e feliz!
E que o lindo sorriso,
Da infância distante,
Nunca se apague,
Nunca se perca,
Nem por um instante!
11/03/2022

15.1.22

Meninos!

 

Ainda ontem, meu filho, eras somente um menino correndo na rua, chutando bola descalço e quebrando o dedo, soltando pipa, deslizando o silêncio da bicicleta pelas ruas do bairro, rindo, alegremente, com outros meninos.

 Aonde, os meninos?

 Cresceram, alçaram voos... e a Rua, ainda lá está, mas não é mais a mesma!

Não há risos de crianças, só carros roncando motores apressados, homens sisudos, buzinando, pedindo passagem, que o negócio não pode esperar... e as mães já não gritam:

─ “Meu filho, vamos almoçar!... É hora do banho, vamos  dormir, para amanhã estudar!”

A vida não para, não pode parar, é preciso viver, é preciso lutar!

Aonde os meninos?

                     15/01/2022