A
criança que fui
Perdeu-se
nas brumas
De
um sebastianismo sem retorno.
Queimei
meus diários de adolescente
Que
não representam mais quem sou.
Desses
tempos nebulosos
Guardo
a essência que me sustenta:
A
verdade do olhar e dos gestos
Que
não sabem, nem querem, mentir.
Pelo caminho
Deixei tudo o que não quero mais, como
A falta sinceridade e amor.
Minha
criança não suporta os venenos
Da indiferença, do ódio, da amargura,
Do desafeto e tantos outros,
Que
quiseram dar-lhe a beber.
Minha
criança flutua, descalça,
Entre
jardins de margaridas,
Colhe-as, enfeita os cabelos
E
tece colares de malmequeres amarelos.
Na orelha direita, prende um hibisco matizado
E corre, feliz, entre cearas de trigo doirado!
Celeste Baptista
Guarulhos, 12 de outubro de 2022