12.10.22

Infância

                                                                 

A criança que fui

Perdeu-se nas brumas

De um sebastianismo sem retorno.

Queimei meus diários de adolescente

Que não representam mais quem sou.


Desses tempos nebulosos

Guardo a essência que me sustenta:

A verdade do olhar e dos gestos

Que não sabem, nem querem, mentir.


Pelo caminho

Deixei tudo o que não quero mais, como

A falta sinceridade e amor.


Minha criança não suporta os venenos

Da indiferença, do ódio, da amargura, 

Do desafeto e tantos outros,

Que quiseram dar-lhe a beber.

 

Minha criança flutua, descalça,

Entre jardins de margaridas,

Colhe-as, enfeita os cabelos

E tece colares de malmequeres amarelos.


Na orelha direita, prende um hibisco matizado

E corre, feliz, entre cearas de trigo doirado!


                  Celeste Baptista

                            Guarulhos, 12 de outubro de 2022