5.10.14

Manta de Farrapos

          Boa parte da minha infância e adolescência foi vivida em colégios de freiras, onde aprendi muitas coisas, entre elas valores morais e éticos que, até hoje, norteiam a minha vida.
        Uma das coisas que me dava bastante prazer era participar das atividades culturais como apresentações em recitais e peças de teatro.
        Lembro-me bem de, ainda aluna do Colégio de Nossa Senhora da Bonança, em Vila Nova de Gaia, Portugal, ter participado de uma festa de Natal, na paróquia Vilar de Andorinho (Gaia), onde me apresentei recitando um poema (não recordo, de momento, o título) e de uma apresentação no Coliseu do Porto em que participei, como uma das personagens centrais, de uma peça de teatro, espetáculo dirigido a soldados que iriam combater no ultramar (provavelmente, em 1962). Já em Coimbra, além das festas no Colégio Rainha Santa Isabel, fui convidada a recitar um poema de Miguel Trigueiros chamado "Natal das Sombras", na festa de Natal (1964) de uma das paróquias do centro da cidade e que fez com que, durante algum tempo, ao passar na baixa de Coimbra escutasse: "aquela é a menina do Natal das Sombras!", podendo sentir o efêmero gosto da fama (rsrsrs).
         Alguns desses poemas foram recitados, muitas vezes, nos encontros da JOC, em Moçambique, em atividades Culturais acadêmicas, como semanas (jornadas) de Letras da Ung (Universidade Guarulhos), em Guarulhos, São Paulo. 
        Várias pessoas têm me pedido a cópia dos textos. Resolvi, portanto, colocá-los aqui, nas páginas do meu blog, tanto para divulgação, quanto como resgate das lembranças de um tempo perdido "nas brumas de D. Sebastião". Se algum leitor se identificar, como tendo participado de algum desses momentos (tempos/memórias) e quiser manifestar-se num comentário crítico, ficarei grata e muito feliz!
        O primeiro texto chama-se Manta de Farrapos (anônimo). Recolhi este texto numa das revistas da ordem das Franciscanas Missionárias de Maria, e se alguém conhecer o verdadeiro autor (a), queira, por gentileza, enviar-me a identidade para que possa atribuir os créditos a quem de direito. 
         Diretamente da minha memória, segue o texto:

Manta de Farrapos

Quando no teu peito arder a revolta,
E um desprezo infinito, pelos que te traíram!
Quando, com língua perversa, 
Fizerem da tua vida, o assunto da conversa,
Por não seres mais do que és,
E por calcares aos pés,
A falsidade de que se alimentam!...
Quando aqueles a quem chamas de irmãos,
De quem gostas,
Vierem mais tarde apunhalar-te pelas costas!
Quando vires sucumbir, à tua beira, um a um os teus,
Sem lhes poderes acudir...
Quando a tua alma inteira for só cicatrizes, 
Que um novo golpe, fizer rebentar,
Quando não tiveres lágrimas para chorar!

Então, 
Pega nos pedaços da tua alma em carne viva,
E do teu peito nu, 
Faz com eles, uma coberta de trapos,
E agasalha,
Na tua manta de farrapos,
Um ainda mais pobre do que tu!

***
         Fiquemos hoje, dia de reflexão política (eleições 2014), com este texto do meu baú. Outros virão, tirados das minhas lembranças, mais longínquas ou mais próximas, à medida que o cotidiano massacrante, me permitir, numa breve fuga, costurar mais um retalho desta manta chamada vida.
                                                                                   Celeste Baptista


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