22.11.15

Elos e Correntes


Chegamos ao mundo acorrentados e quebrando correntes. Sim. O cordão umbilical é a primeira das muitas correntes que teremos que cortar para sobreviver.
Às vezes deixamos que as correntes se emaranhem e se enrolem no pescoço e, se não formos socorridos a tempo, morreremos enforcados.
Acorrentados à família defendemo-nos de enfrentar a luta do dia a dia, a mais penosa das lutas, mas que pode, ao mesmo tempo, ser prazerosa.
E continuamos criando, tecendo, novas correntes, elo a elo, que se vão fortificando. A corrente dos amigos de infância que acompanharam e fortificaram nossos elos, ralando joelhos, rachando a cabeça, fendendo os lábios, na queda ou na mordida forte de segurar e esconder nossas fragilidades.
Temos as correntes dos primeiros amores e as quebras dos primeiros elos, temos as correntes do casamento, do trabalho, dos estudos, da corrida para ser alguém na vida, ter um lugar ao sol. E quantos elos, dessas correntes, se quebram no embate forte ou no pequeno toque! Temos correntes de aço, difíceis de romper, de ferro, que se não forem bem cuidadas enferrujam facilmente, de palha que incendeiam à menor ameaça de fogo, temos correntes de cristal, belas e frágeis que ao menor toque se quebram e não podem ser coladas. Temos correntes de ar – de brisa ou temporal -  que sopram num afago ou derrubam sem piedade tudo o que encontram pela frente.
E assim vamos percorrendo a estrada, arrastando correntes, até que, perdidos os elos, mergulhamos no mar da solidão.
Quantos elos emendei em longes que vivi! Quantos elos quebrei e quantos, ainda,  terei de emendar, de arrastar de quebrar... não sei!

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