14.1.17

O Gato que não tive


Nunca tive gatos. No entanto, os gatos me escolhem. Foi assim com diversos gatos ao longo da vida.
Levei um susto de novo. A janela do quarto aberta, ficava no nível abaixo da rua e da garagem aberta. Na verdade, um pequeno terraço com espaço suficiente para um carro. Estou sozinha. A casa silenciosa. Que aconteceu lá dentro? Entro no quarto e me deparo com um novelo doirado aninhado na minha escrivaninha. Sim era o gato da vizinha, ou da vizinhança, já que ele transitava livre sobre todos os telhados. Era a segunda vez que me aprontava essa peça e, apesar de o expulsar de casa, mostrando-me brava, ele voltava sempre que achava uma brecha. Se não fosse à janela, espreitava-me à porta quando, em noites quentes, me sentava na soleira, da porta da frente de casa, para me refrescar e conversar com o marido ou eventuais amigos que, com o calor intenso, saiam de casa, olhavam ao redor e, achando vizinhos disponíveis, aproveitavam para contar as peripécias do dia.
Naquela época esperava o meu primeiro filho, na verdade uma filha. A ultrassonografia ainda não era moda e não identificava, com a precisão de hoje, qual o sexo do bebê. Atrevido, o gato, chegava de mansinho e, sem pedir licença, instalava-se no meu colo. Consentida a primeira vez, lá vinha ele, sempre que possível, participar desses momentos de relaxamento. Deixei de ver o gato por um bom tempo, ou seria gata? Nunca indaguei o sexo do bichano... Um belo dia sumiu e durante um bom tempo ninguém o viu nas imediações. Teria morrido atropelado?
Tempos depois um outro gato, com igual pêlo dourado, foi rondando as casas da vizinhança e se aproximando. Era bem pequenino, quem sabe filhote do anterior, de quem herdara a memória das casas e das pessoas... Mudei de casa e de bairro, e outros gatos foram rondando minha casa, minhas pernas, as de meus filhos, e até agora há um que adora instalar-se sobre ou sob o meu carro, de acordo com suas conveniências... 
       Enxota daqui, enxota dali, tentei livrar-me dos gatos, mas sem grande êxito. E eu, que nunca fui dona de gatos, me vejo adotada por algum, tentando ser meu dono...
Foi assim, há muito tempo, com o gato siamês, rabugento e mal-humorado de uma senhora francesa com quem fiz aulas de conversação. Desde o primeiro dia, para espanto de sua dona, ele aninhou-se no meu colo e eu, que nunca quis compromissos felinos, me vi “dona” de gatos alheios.



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